Ele reeduca homens violentos em uma ONG feminista 18/03/2012
(Valéria França, de O Estado de S. Paulo)
Sergio Barbosa é coordenador do primeiro grupo de SP feito para mudar o comportamento de homens agressores.
Todas as segundas-feiras, um grupo de aproximadamente dez homens se reúne em um sobrado de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Com profissões e escolaridade distintas, eles têm em comum um histórico de agressões físicas e psicológicas contra mulheres.
Na coordenação desse grupo está o brasiliense Sergio Barbosa, de 45 anos, professor de Sociologia e Filosofia, que depois de muitas andanças pelo Brasil, se estabeleceu em São Paulo. Filho de militar baiano com uma dona de casa capixaba, trabalha há duas décadas pela igualdade de gêneros. Desde 2006, é voluntário do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, organização não governamental que pegou um caminho alternativo para tentar cortar o ciclo da violência contra a mulher: o de reeducar os homens.
Caminho no qual a Justiça também acredita. Desde 2010, a Vara Central da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de São Paulo, na Barra Funda, zona oeste, direciona os homens agressores para a ONG. "Eles chegam bravos, odiando a ideia de estar em um grupo de homens organizado em um coletivo feminista", diz Barbosa.
"Sou amasiado e estou aqui por brigas antigas. A juíza me condenou a participar", diz um motorista de 35 anos, integrante do grupo. "No início, eles se sentem injustiçados. Acham que não fizeram nada de mais", explica Barbosa, que com o resto da equipe faz uma série de atividades para desconstruir a figura do machão controlador.
"Tentamos mostrar que para ser homem não é necessário bancar o durão violento. Ajudar na educação dos filhos e mesmo nas tarefas do lar não afeta a masculinidade", diz Leandro Feitosa Andrade, de 52 anos, professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), outro voluntário do Coletivo que trabalha com Barbosa na reeducação dos homens.
Todos os orientadores são homens. No caso de Barbosa, ele parece ter sido escolhido a dedo. Antes de se formar em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, trabalhou no garimpo em Xambioá, município do estado do Tocantins. Homem de traços rústicos, provoca empatia imediata nos integrantes do grupo, conhece a realidade desse público, e não se choca à toa.
"Meu pai queria que fizesse ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Eu até passei no exame, mas ansiava por outra vida. Fui ganhar dinheiro no garimpo." Aos 20 anos veio para São Paulo, entrou na PUC, e engatou numa ação comunitária com prostitutas, garotos de programas e travestis na zona leste da cidade. Daí para o trabalho pela igualdade de gênero foi um pulo.
Ao todo, são 16 encontros semanais. No início, os homens se apresentam e contam suas histórias. Os motivos para a violência são quase sempre os mesmos: sentimento de posse, ciúmes, educação dos filhos e machismo. "Acham que só eles podem fazer determinadas coisas, como trabalhar e não cuidar das tarefas domésticas ou sair com os amigos para uma noitada. Quando são desafiados, partem para agressão", diz Barbosa, que entende bem sobre negociações em família. Casado com uma médica infectologista, é pai de três filhos - Juliana, de 15 anos, Lucas, de 14 anos, e Sarah, de 4 anos.
Escolaridade. Nenhum agressor aceita ser colocado em xeque, independentemente do grau de escolaridade. "No grupo, muitos frequentadores têm curso superior e acreditam que são representantes da honra e do poder." Um comportamento que, segundo ele, se repete em outros ambientes como nas universidades. "Há muitos casos de mulheres que foram drogadas porque os parceiros queriam sexo e elas, não. O estupro não é denunciado." Barbosa dá aula de Filosofia e Sociologia nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), na Liberdade, centro de São Paulo.
Para mudar tantos preconceitos, vale tudo: psicodrama, palestras e atividades paralelas. "Dizer que a cada 15 segundos uma mulher é agredida não sensibiliza o homem. É preciso chamá-lo para a responsabilidade." No grupo, o depoimento de agressores com passagem pela prisão tem efeito moral sobre os demais. "Fiquei 115 dias preso. Lá dentro é cruel, principalmente para a gente, que não é bandido, que é trabalhador. Se puder evitar...", diz um jovem do grupo, de 19 anos.
Noções de direitos humanos e da Lei Maria da Penha também fazem parte do programa. A ideia é acabar com o sentimento de impunidade. Questões de saúde sexual, como a importância do uso da camisinha, também são abordadas. "Tem homem que acha que mulher que carrega camisinha na bolsa é vagabunda", afirma Barbosa.
Academia de Polícia. Alguns alunos frequentam também o curso da Academia de Polícia de São Paulo, batizado de Projeto de Reeducação Familiar, constituído de seis encontros mensais com palestras. "O projeto é fruto de um Termo de Cooperação entre a Secretaria da Segurança Pública, a Polícia Civil, a Academia de Polícia, a Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania e o Ministério Público Estadual", explica a juíza Elaine Cristina Monteiro Cavalcante, da Vara Central da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de São Paulo.
Trata-se de um curso mais recente do que o do Coletivo, porém com uma infraestrutura maior, com profissionais contratados - na ONG, o trabalho é voluntário. "O critério de encaminhamento aos dois projetos é, basicamente, a conveniência de dias e horários. A frequência não pode atrapalhar o emprego de cada agressor", explica Elaine.
"De cada cem agressores que passam pelo Coletivo", segundo Barbosa, "apenas dois reincidiram." A Justiça quer aumentar o número de cursos, porque a demanda de "alunos" deve crescer. Em dezembro de 2010, foram criadas na cidade mais seis varas especializadas na Lei Maria da Penha. Só em abril, 60 homens são esperados para uma mega-audiência na Barra Funda.
Acesse em pdf: Ele ensina os machões a serem 'bons maridos' (O Estado de S. Paulo - 18/03/2012)
Il rééduque les hommes violents dans une ONG féministe
(Valéria França, de O Estado de S. Paulo)
Sérgio Barbosa est coordinateur du premier groupe de São Paulo fait pour changer le comportement d'hommes agresseurs.
Chaque lundi, un groupe de près de dix hommes se réunissent dans une maison au quartier Pinheiros, dans la zone ouest de São Paulo. Avec des professions et de la scolarité distinctes, ils ont en commun un historique d'agressions physiques et psychologiques contre des femmes.
En la coordination de ce groupe, il y a Sérgio Barbosa, de 45 ans, né à Brasília, enseignant de Sociologie et Philosophie, qui après quelques déplacements par le Brésil, il s'est établie à São Paulo. Fils de militaire originaire de la Bahia avec une femme de foyer capixaba (de l’État de l’Espírito Santo, travaille il y a deuxdécennies pour l'égalité de genre. Depuis 2006, il est volontaire au Collective Féministe Sexualidade e Saúde, organisation non gouvernementale qui a pris un chemin alternatif pour essayer de couper le cycle de violence contre la femme : de rééduquer les hommes.
Chemin dans lequel la Justice aussi croit. Depuis 2010, le Tribunal Central de la Violence Domestique et Familière contre la Femme de São Paulo, à Barra Funda, à la zone ouest, achemine les hommes agressifs vers l'ONG. « Ils arrivent fachés, haïssant l'idée d'être dans un groupe d'hommes organisé dans une collective féministe », dit Barbosa.
« J’ai vécu en concubinage et je suis ici par des bagarres anciennes. La juge m'a condamnée à participer », dit un conducteur de 35 ans, intégrant du groupe. « Dans le début, ils se sentent des victimes d'une injustice. Ils trouvent qu'ils n'ont fait rien de plus », explique Barbosa, qui avec le reste de l'équipe fait une série d'activités pour desconstruir la figure du mec viril contrôleur.
« Nous essayons de montrer que pour être homme il ne faut pas encaisser le violent. Aider dans l'éducation des fils et même dans les tâches du foyer ne touche pas la masculinité », dit Leandro Feitosa Andrade, de 52 ans, enseignant Psychologie à la Pontificale Université Catholique de São Paulo (PUC), autre volontaire du Collectif qui travaille avec Barbosa dans la rééducation des hommes.
Tous les facilitateurs sont des hommes. Dans le cas de Barbosa, il semble avoir été choisi à doigt. Avant de faire ses études de Philosophie à la Pontificale Université Catholique de São Paulo, il a travaillé dans le « garimpo » filtre dans Xambioá, ville de l'état du Tocantins. Homme de traces rustiques, provoque de l’empathie immédiate dans les intégrants du groupe, il connaît la réalité de ce public, et il ne se choque pas vainement.
« Mon père voulait que je faisait ITA (InstitutTechnologique d'Aéronautique). J’ai même passé à l'examen, mais je voulais une autre vie. Je suis allé faire de l’argent dans le « garimpo » filtre. » À 20 ans, il est arrivé à São Paulo, il a entré à l’Université, et s’est engagé à une action communautaire avec des prostituées, garçons de programmes et travestis dans la zone est de la ville. À partir de là au travail pour l'égalitéde de genre ça a été un saut.
En tout, ce sont 16 rencontres hebdomadaires. Au début, les hommes se présentent et racontent leurs histoires. Les raisons pour la violence sont presque toujours les mêmes : sentiment de possession, jalousies, éducation des fils et machisme. Ils pensent que seulement ils peuvent faire certaines choses, comme travailler et ne pas faire des tâches domestiques ou sortir avec les amis pour une soirée. Quand ils sont défiés, ils partent à l’agression », dit Barbosa, qui comprend bien sur des négociations en famille. Marié avec une médecin inffectologiste, il est père de trois fils - Juliana, 15 ans, Lucas, 14 ans, et Sarah, 4 ans.
Scolarité. Aucun agresseur accepte d’être mis en échec, indépendamment du degré de scolarité. « Dans le groupe, plusieurs entre eux ont cours supérieur et croient qu’ils sont les représentants de l'honneur et du pouvoir. » Un comportement qui, selon lui, se répète dans d'autres environnements comme à les universités. « Il y a beaucoup de cas de femmes qui ont été droguées parce que les partenaires voulaient sexe et elles, non. Le viol n'est pas dénoncé. » Barbosa donne des cours de Philosophie et de Sociologie aux Facultés Métropolitaines Unies (FMU), au quartier de la Liberté, au centre de São Paulo.
Pour changer autant des préjugés, toutes técniques comptent : psychodramme, conférences et activités parallèles. « Dire qu'à chaque 15 secondes une femme est agressée ne sensibilise pas l'homme. Il faut l'appeler à la responsabilité. » Dans le groupe, le témoignage d'agresseurs avec passage en prison a un effet moral sur les autres. « J'ai été 115 jours emprisonné. Là, à l'intérieur c'est cruel, principalement pour ceux qui ne sont pas hors-la-loi, qui sont travailleurs. Il vaut mieux l’éviter… », dit un jeune du groupe, de 19 ans.
Des notions de droits humains et de la Loi Maria da Penha (qui puni les agresseurs) aussi font partie du programme. L'idée est de finir avec le sentiment d'impunité. Questions de santé sexuelle, comme l'importance de l'utilisation du préservatif, aussi sont abordée. « Il y a des hommes qui pensent que femme qui porte du préservatif dans la bourse, c'est vagabonde », il affirme Barbosa.
Académie de Police. Quelques élèvesfréquentent aussi le cours de l'Académie de Police de São Paulo, le nommé Projet de Rééducation Familière, constitué de six rencontres mensuelles avec des conférences. « Le projet est fruit d'un Terme de Coopération entre la Secrétarie de Sécurité Publique, la Police Civile, l'Académie de Police, Secrétarie de Justice et Défense de la Citoyenneté et le Ministère Public De l'état », explique la juge Elaine Cristina Monteiro Cavalcante, du Tribunal Central de la Violence Doméstique et Familière contre la Femme de São Paulo.
Il s'agit d'un cours plus récent que celui du Collectif, néanmoins avec une infrastructure meuilleure, avec des professionnels contractés – à l'ONG, le travail est bénévole. « Le critère d'acheminement aux deux projets est, basiquement, la facilité de jours et les horaires. La fréquence ne peut pas perturber l'emploi de chaque agresseur », explique Elaine.
« De chaque cent agresseurs qui passent par le Collectif », selon Barbosa, « seulement deux ont récidivé. » La Justice veut augmenter le nombre de cours, parce que l'exigence d'« élèves » doit grandir. En décembre 2010, ont été créés dans la ville plus six Tribunaux spécialisés en la défense de la femme et la Loi Maria da Penha. Seulement en avril, 60 hommes sont attendus pour une mega-audience au Tribunal de la Barra Funda.
PDF : Il enseigne les mecs virils à être de « bons maris » (l'État de S. Paulo -18/03/2012)